sábado, 20 de outubro de 2012

TRABALHO E AMOR




"Quando trabalhais, sois uma flauta através da qual o murmúrio das horas se transforma em melodia.

Quem de vós aceitaria ser um caniço mudo e surdo  quando tudo o mais canta em uníssono? 

Sempre vos disseram que o trabalho é uma maldição, e  o labor, uma desgraça. 
Mas eu vos digo que, quando trabalhais, realizais  parte do sonho mais longínquo da terra, desempenhando assim uma missão que vos foi designada quando esse sonho nasceu. 

E, apegando-vos ao trabalho, estareis na verdade  amando a vida. 
Disseram-vos que a vida é escuridão; e no vosso  cansaço, repetis o que os cansados vos disseram. 
E eu vos digo que a vida é realmente escuridão,  exceto quando há um impulso. 
E todo impulso é cego, exceto quando há saber. 
E todo saber é vão, exceto quando há trabalho. 
E todo trabalho é vazio, exceto quando há amor. 
E quando trabalhais com amor, vós vos unis a vós  próprios e uns aos outros, e a Deus. 
E que é trabalhar com amor? 
É tecer o tecido com fios desfiados de vosso próprio  coração, como se vosso bem-amado fosse usar esse tecido. 
É construir uma casa com afeição, como se vosso bem- amado fosse habitar essa casa. 
É semear as sementes com ternura e recolher a  colheita com alegria, como se vosso bem-amado fosse comer-lhe os frutos. 
É pôr em todas as coisas que fazeis um sopro de vossa  alma.

O trabalho é o amor feito visível. 
E se não podeis trabalhar com amor, mas somente com  desgosto, melhor seria que abandonásseis o vosso trabalho e vos sentásseis à porta do templo a solicitar esmolas daqueles que trabalham com alegria.

Pois se cozerdes o pão com indiferença, cozereis um  pão amargo, que satisfaz somente a metade da fome do homem. 
E se espremerdes a uva de má vontade, vossa má  vontade destilará no vinho o seu veneno.

E ainda que canteis como os anjos, se não tiverdes  amor ao canto, tapais os ouvidos do homem às vozes do dia e às vozes da noite."


Poema de Kahlil Gibran

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