A família é nosso primeiro meio social, é onde construímos e nutrimos
nossas primeiras relações e também onde iniciamos nosso desenvolvimento
do Eu. Os vínculos costumam se desenvolver de forma intensa, por vezes
nos tornando cuidadores e defensores de nossa família.
Acontece que muitas vezes esses laços se constituem de forma a não
estabelecer limites a essas relações, tornando-as disfuncionais.
Família disfuncional? O que é? “Uma família
disfuncional é aquela que responde as exigências internas e externas de
mudança, padronizando seu funcionamento. Relaciona-se sempre da mesma
maneira, de forma rígida não permitindo possibilidades de alternativa.
Podemos dizer que ocorre um bloqueio no processo de comunicação
familiar”. Fonte:Boa Saúde
Em muitos casos um familiar responsabiliza-se por resoluções de
problemas e conflitos que não deveriam ser de sua preocupação. Veja
alguns que estão recentes em minha mente.
- Filho que assumiu a posição de ‘chefe da casa’ após separação conturbada dos pais. Além de cuidar de si e de suas questões ‘adolescentes’, o filho sente-se na obrigação de cuidar da mãe e educar o irmão mais novo;
- Filho de pais que vivem em meio a separações e ameaças de divórcio. O filho vira mecanismo de reconciliação/separação do casal, sendo peça fundamental para que um ciclo briga-separa-volta se mantenha a todo vapor;
- Filha mais velha e adulta sente-se responsável por dar suporte a sua mãe (que criou a filha parte da infância sozinha), seja financeira ou emocionalmente. Tornando-se refém dos problemas da mãe, que são normalmente resolvidos pela filha ou não resolvidos para se manter esse tipo de relação;
- Irmã que sente-se responsável por cuidar dos irmãos e já na fase adulta continua a resolver os conflitos e arcar com despesas financeiras dos irmãos;
- Mãe que, apesar dos filhos já serem adultos e estarem casados, sente-se responsável por conduzir a vida dos filhos e assumir despesas e responsabilidades deles;
Ao expor os exemplos acima não me refiro a situações isoladas ou
casos específicos. Me refiro a ciclos repetitivos que adoecem as
relações e sobrepõem responsabilidades individuais, transferindo-as ao
outro.
Em casos como os já citados todos têm prejuízos em suas vidas. Uma
pessoa sobrecarrega-se, outra não amadurece, mantendo uma relação
imatura, sem espaço para desenvolvimento com intuito de melhora.
Para alguns pode ser visto como prova de amor, mas não. Amor baseia-se em troca, respeito mútuo e limites. Estipular limites sim é uma prova de amor, amor ao outro e a si mesmo.
Normalmente quem se encontra neste tipo de situação enfrenta
dificuldade em romper com o ciclo vicioso que retroalimenta, no entanto,
é extremamente necessário que o indivíduo entenda o papel que vêm
exercendo e o que o motiva a manter-se nessa posição (normalmente há
algum ganho ou enrijecimento por um ganho do passado). A consciência do
funcionamento familiar já é de grande valia já que muitas pessoas
vivenciam essas situações sem nem ao menos perceber que algo está
disfuncional, mesmo em casos em que haja sofrimento manifesto.
Em alguns casos uma conversa com alguém fora da família, como um
amigo, poderá alertar e alterar o status da família. Outras vezes o
processo terapêutico se faz necessário.
O processo terapêutico individual por si só já provocará
desdobramentos no lidar deste individuo com seus familiares. Agora se o
processo terapêutico for familiar, ou seja, todos os membros da família
participarem, o processo poderá ser muito mais rápido, pois os conflitos
referentes ao envolvimento e mecanismo familiar serão resolvidos por
todos juntos, além de propiciar que todos entendam seu papel no
funcionamento da família, possibilitando, assim, a escolha de permanecer
retroalimentando os laços disfuncionais ou reescrevendo novas formas de
organização e arranjo familiar.
Texto original de Lar – Livre à Reflexão
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